Eva Ferreira
O estigma de certas doenças surge como uma forte barreira, não só à procura de ajuda mas também à adesão ao respetivo tratamento. O preconceito e discriminação podem resultar na redução das oportunidades individuais, contribuindo para a desigualdade social.
Mas quais são, então, os domínios que contribuem para a estigmatização de doenças como o VIH, o cancro ou as doenças mentais? O medo de ser infetado, julgamentos sociais associados a determinados estereótipos ou crenças, preocupações com a diminuição da produtividade no local de trabalho (no que diz respeito, principalmente, a indivíduos com condições crónicas) são apenas três dos muitos fatores.
De um modo sistemático, as práticas relacionadas com o estigma podem ser divididas em estereótipo, preconceito e, passando para um âmbito mais reativo e de ação, atitudes discriminatórias. A grande questão será: como e onde intervir?
Idealmente, seria relevante impedir o processo antes que este alcance a dimensão de ações discriminatórias. Neste sentido, muitas das vezes as intervenções têm como principal alvo a eliminação de motivadores da estigmatização, de que é exemplo o medo de ser infetado, através do esclarecimento e informação da população. Uma abordagem multifatorial poderá ser mais efetiva se incluir não só aspetos como apoio aos indivíduos que possuem doenças estigmatizadas, mas também compartilhar mensagens anti-estigma e alcançar a comunidade com vista a alteração de ideias e atitudes.
A forma como a comunidade em que nos inserimos perceciona os nossos problemas de saúde pode afetar a maneira como os experienciamos. Viver com uma doença relativamente comum ou à partida bem aceite pela sociedade poderá diminuir qualquer receio existente. Viver com VIH, por outro lado, e ver-se obrigado a enfrentar diariamente toda a desinformação e desconhecimento será, certamente, considerado mais difícil. Esta situação é apenas uma das existentes em Portugal. Muitas outras ainda persistem, como é o caso do estigma oncológico, que se reveste de características com grande carga emocional e altera significativamente o comportamento do indivíduo e a autogestão da doença. Atualmente, têm sido direcionados esforços para acabar com determinadas situações discriminatórias. Os 350 mil sobreviventes de doença oncológica em Portugal devem ter direito a comprar casa, a pedir crédito ou a contratar seguros sem sofrer discriminação. Neste sentido, quer instituir-se em Portugal o “direito ao esquecimento”, pois se ter tido um cancro é uma condição de risco e se as seguradoras têm o direito de analisar o risco que estão a aceitar, também é verdade que quem se encontra livre de cancro há anos não deve ser discriminado nem julgado pelo nível de risco do seu passado. A concretização deste direito fundamental, o da habitação, é de grande importância, já que comprar casa é, para muitas pessoas, um processo complicado. Assim, torna-se fulcral descobrir os principais motivadores da estigmatização, nas suas várias vertentes, para além de encontrar soluções estratégicas com vista à sua extinção.