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Solidão

Joana Oliveira

Esta crise silenciosa que vive entre nós, num mundo mais conectado do que nunca.

É impressionante perceber que há menos de 150 anos, Alexander Bell inventava o telefone e que há pouco mais de 50 anos o Homem pisava a lua com um computador de bordo de apenas 4MB de memória RAM. A tecnologia evoluiu a passos largos e com ela veio o crescer de uma pequena grande aldeia global, numa partilha de vivências e culturas. Vivemos uma realidade que existia nos sonhos mais remotos de gerações não tão distantes, e nela infinitas possibilidades.

Mas colidimos com o duro reverso da medalha. E porquê? Como é que passamos de olhar caras para olhar ecrãs?

Vivemos uma crise de solidão sem precedentes que se alimenta da conveniência do “à distância” e da “bolha de conforto” que é o anonimato por detrás do ecrã. E com isto, abdicamos da experiência sensorial que torna a comunicação social humana. Abdicamos do toque, do cheiro e da troca de olhares. Abdicamos, também, do verdadeiro sentido da partilha da vivência humana, em que mais expostos do que nunca, escolhemos partilhar fragmentos da nossa vida meticulosamente selecionados e que a refletem numa luz maioritariamente e falsamente positiva.

Além da falta de representatividade e conexão em todo o espetro da experiencia humana, ecoa a competitividade, a comparação e a inevitável frustração sustentada pelo FOMO ( “fear of missing out”).  Os likes, o número de seguidores e a consequente sobrevalorização da imagem como algo necessário à aceitação social são conceitos que vivem (in)conscientemente enraizados. São, por isso, participantes ativos neste círculo vicioso entre a necessidade de aceitação social e a perpétua insatisfação ancoradas em expectativas retorcidas de vivências.

Somos, assim, impiedosamente sugados por esta “realidade virtual” à procura do próximo estímulo, à procura do próximo “click”. Vivemos na ânsia de estar mais perto de quem está longe e estamos cada vez mais longe de quem está perto.

Sendo assim, e no combate a esta crise silenciosa, é mais que necessário aprender a dar passos neste mundo distópico, interiorizando a importância de desconectar para conectar, não só com os outros como também com o nosso “eu” mais autêntico.

Ilustração: Mrzyk & Moriceau

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