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Promising Young Woman

Jorge Machado

No Dia Internacional da Mulher trazemos-vos a sugestão de um filme que aborda de uma forma única os problemas que as mulheres ainda sofrem atualmente na sociedade e até que ponto se deve ir no sentido de resolver estes problemas.

Promissing Young Woman é um filme de 2020 mas que apenas este ano tem vindo a sugerir no spotlight após a sua nomeação para vários prémios internacionais, sendo que até já arrecadou alguns e promete levar ainda mais. É realizado e escrito por Emerald Fennell, produtora da série televisia Killing Eve e atriz recorrente na série The Crown, e protagonizado por Carey Mulligan, naquela que é de longe a sua melhor performance.

A história gira em torno de Cassandra, uma antiga estudante de Medicina, que desistiu do curso nos primeiros anos e após 7 anos ainda vive atormentada pelos fantasmas do passado. É difícil contar muito mais do enredo sem estragar aquilo que o filme tem de melhor que é a capacidade de deixar o espetador preso ao ecrã do início ao fim numa tentativa de juntar as peças de um puzzle que vão sendo oferecidas ao longo da narrativa e ao mesmo tempo de nos surpreender constantemente com os plotwists, que ao contrário dos filmes dos últimos anos, não são previsíveis ou ilógicos.

Como em todos os filmes completos, a produção é exemplar e única. Desde o planeamento das cenas, ao guarda-roupa, a maquilhagem, aos penteados, tudo é planeado ao pormenor de forma criativa e cativante para deslumbrar o espetador, ao mesmo tempo que acompanha a história, variando entre os diversos tipos de sentimentos expressos pela personagem principal. Contudo, não podia deixar de referir a banda sonora, que para mim foi dos maiores feitos deste filme. Através de uma adaptação de temas pop de grandes artistas femininos, a música acompanha desde as cenas mais românticas e cómicas às cenas mais negras, aquilo que é a transformação e desespero de Cassie ao longo da história, até à brilhante resolução final.

O que me deixou mais fascinado com este filme é que não se enquadra em nenhuma categoria dos filmes modernos, tanto estamos a ver uma cena de drama, como uma cena de comédia, como cenas de romance, como um autêntico thriller em que sentimos uma ansiedade imensa com o desenvolvimento da narrativa e com o futuro das personagens. Mas o que este este filme melhor aborda é as experiências que uma mulher tem de passar numa sociedade patriarcal que protege os agressores de violência sexual e culpa a vítima, deixando os espectadores profundamente perturbados do início ao fim sem na verdade perceberem o porquê de sentirem dessa forma.

O que mais me perturbou neste filme, é saber que apesar de dramático, a história podia perfeitamente acontecer com qualquer mulher que conheço, e que as pessoas à sua volta iriam lidar com a situação da mesma forma que as várias personagens da história lidaram.

Por outro lado, o filme faz-nos refletir sobre até que ponto devemos ir quando queremos justiça por estas mulheres, a partir de que momento é que deixamos de ser justos e passamos a fazer pior do que aquilo que o agressor fez, até que ponto deve alguém danificar a sua vida pessoal para vingar alguém e se será errado simplesmente avançar com a vida e ignorar as injustiças do nosso mundo.

Independentemente da opinião que uma pessoa tenha sobre o assunto, ninguém sairá igual depois de ver este filme, pelo menos eu tive dias a pensar sobre ele, porque por muito que queiramos mudar a sociedade e fazer justiça por aquelas que amamos, há sempre um limite até ao qual estamos dispostos a ir, resta-nos refletir sobre qual seria esse limite.

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