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The Handmaid’s Tale

Pedro Simões

“When I wrote The Handmaid’s Tale, nothing went into it that had not happened in real life somewhere at some time.”

Publicado em 1985 por Margaret Atwood, The Handmaid’s Tale retrata uma sociedade distópica, num futuro não muito distante, nos Estados Unidos da América após uma futura guerra civil. Neste contexto surge Gilead – um novo país governado por um modelo teocrático que conduz à erradicação e reformulação daquilo que hoje idealizamos como a sociedade americana do século XXI.

É pelos olhos de Offred, a protagonista, através da revisitação de memórias e de relatos na primeira pessoa que ficamos a conhecer todo o enquadramento desta narrativa. No mundo que nos é apresentado vemos como pessoas aparentemente banais, como Offred, com os seus problemas triviais do dia-a-dia, assistem ao mundo à sua volta ruir a partir de um golpe de estado, que para sempre muda o rumo das suas vidas.

Acima de tudo, esta obra faz-nos refletir de várias formas como a complacência e a tolerância com o intolerante nos pode conduzir a uma espiral descendente da qual é incrivelmente difícil nos libertarmos. “That was when they suspended the Constitution. They said it would be temporary. There wasn’t even any rioting in the streets.” Foram todas as pequenas perdas de direitos, pouco a pouco, silenciosamente, que construíram Gilead.

Com o pretexto de proteção e segurança, os cidadãos desta nova nação são despidos lentamente dos seus direitos. Ainda que inicialmente sem grande resistência por parte da população, a crescente opressão acaba por levantar vozes de protesto às quais o novo regime não hesita silenciar.

Atwood transporta-nos para uma realidade onde os direitos que tomamos como garantidos são progressivamente eliminados, sendo que todos os aspetos da vida social acabam rigidamente controlados à luz de novos padrões morais impostos. Num paralelo com a realidade, The Handmaid’s Tale, faz-nos assim pensar na importância de uma contínua luta pelos direitos humanos. Todo o trabalho de longos anos na construção destes direitos pode ser rapidamente deitado por terra por aqueles que detêm o poder político, sendo responsabilidade de cada um de nós impedir que aconteça tal erosão social.

Em Gilead, as mulheres são as principais vítimas, perdendo totalmente direitos como à educação, ao trabalho, à propriedade privada, e até mesmo ao livre movimento. Estas são também divididas em grupos consoante o papel que lhes é esperado em forma de contributo para a sociedade. No entanto, ainda que representadas num universo ficcional, estas situações de persistente desrespeito e violência para com a mulher não nos são completamente estranhas. Todos nós conseguimos ainda hoje encontrar inúmeros exemplos de países onde de uma ou outra de forma os direitos da mulher não muito diferem daqueles que nos são mostrados nos relatos de Offred.

No fim, assistindo a todos os horrores e violência relatados no decorrer da ação, a questão que impera é se poderá isto alguma vez acontecer na nossa realidade? Ao que a autora apenas nos relembra “I didn’t make them up, it has already happened…”

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