Vasco Henriques
Ah, a camada de ozono, aquele protetor solar que a mãe Terra nos esfrega sem sequer darmos conta, enquanto andamos a brincar. Uma quantidade imensa de oxigénio que, não contente com ser já ar que alimenta, decide agrupar-se com mais um parceiro para funcionar como barreira entre o homem e o seu maior radiador, o sol…
O ozono forma-se naturalmente, composto por três átomos de oxigénio. A cerca de 15-30 km da superfície terrestre, envolve o planeta em altas concentrações na estratosfera, o que possibilita e suaviza uma interação solar salutar com a vida, ao absorver perniciosos raios ultravioleta, potencialmente causadores de doenças dermatológicas, mutações genéticas e supressão do sistema imune, tanto em humanos como em animais, assim como de efeitos deletérios nas colheitas agrícolas.
Em 1928 apareceram os primeiros refrigeradores concebidos pelo homem, os clorofluorcarbonetos (CFC). Considerados milagres da ciência moderna devido às propriedades de transferência de calor, assim como outros atributos (inertes, incolores, inodoros, baixa inflamabilidade e baixa reatividade) rapidamente se tornaram um lugar-comum no quotidiano
da humanidade. Acreditou-se que o seu grau de toxicidade fosse negligenciável e como tal, passaram a ser usados em todos os tipos de serviços, desde frigoríficos a extintores, sistemas de refrigeração de ar e até propelentes em inaladores para tratamento de asma.
Tendo descoberto os efeitos adversos que a massificação do seu uso causa na camada de ozono, desde a década de 70 que a comunidade científica tentava implementar medidas que regulassem os CFC. Contudo, apenas uma publicação da revista Nature, em 1985, 57 anos depois da descoberta dos CFC, galvanizou a comunidade internacional, de tal forma que impulsionou ação massificada. O artigo, redigido por uma equipa do British Antarctic Survey, anuncia a deteção de uma concentração anormalmente baixa de ozono na zona do Pólo Sul, vulgarmente, um “buraco” na camada de ozono.
Respondendo diretamente a esta descoberta, 46 nações assinaram em 1987 o protocolo de Montreal. Este protocolo, concebido para erradicar o uso de substâncias causadoras de depleção do ozono, tornou-se uma entidade dinâmica, sendo retificado múltiplas vezes até incluir todos os 198 membros das nações unidas, evoluindo à luz de desenvolvimentos científicos, técnicos e económicos. A ação, fruto da relativa rapidez e
unanimidade com que foi adotada, revelou-se bem sucedida, permitindo à comunidade científica tecer previsões otimistas relativas à regeneração da camada. Mais e não menos importante, uma vez que os CFC são potentes gases com efeito de estufa, o cessar da sua utilização tem sido uma contribuição significativa sem paralelo para a proteção do sistema climático global, ao reduzir o incremento na temperatura média da Terra.
Apelidado como um dos maiores esforços coletivos da nossa espécie, a camada de ozono e a luta pela sua manutenção proporcionam-nos o exemplo de uma boa história na evolução da humanidade… Recheada de surpresa, intriga e superação, alerta-nos para a constante necessidade de desenvoltura do conhecimento, para o não facilitismo perante uma
novidade que tantas vezes pode parecer perfeita (antes de devidamente estudada), assim como para a recompensa que provém da cooperação consciente.
Referências:
The ozone layer | Department of Agriculture, Water and the Environment Introducing the Refrigerant Revolution (triplepundit.com)
About Montreal Protocol (unep.org)
Climate Change History – HISTORY